Instant Karma — O romance água com açúcar de Marissa Meyer
Depois de escrever história de dor e sofrimento tanto para seus personagens quanto para os leitores, Marissa Meyer decidiu dar um docinho para seus fãs. Instant Karma é um livro infanto-juvenil muito fofo que eu até estranho que tenha sido escrita pela mesmo mulher de Sem Coração e Crônicas Lunares, além da nova série Renegados que todo mundo fala muito bem — pelo menos do primeiro livro.
Prudence é uma adolescente perfeccionista que não deixa ninguém colocar a mão de verdade no trabalho dela porque ela acha que tudo vai sair um cocozinho se não for ela mesma quem fizer. Quando ela é obrigada a fazer um projeto de biologia com Quint Erickson, o aluno que ela considera extremamente irresponsável, ela surta na batatinha e acha que nada poderia ser mais injusto. Já não muito satisfeito com as reclamações da jovem, o “Universo” decide passar a bola e Prudence ganha o poder de castigar e abençoar pessoas segundo sua própria régua. Devolver o karma de forma instantânea. (Digo o Universo de forma metafórica)
É hilário como na primeira página do livro quando a Prudence está reclamando que o Quint está super atrasado e o quanto ele é irresponsavel eu já saquei de cara que ele tinha um emprego antes da aula. É simplesmente transparente. Nesse mesmo momento exato momento eu fui atrás da classificação desse livro e descobri que é 13 anos, logo, quem tá errado aqui sou eu de ler um livro que está muito longe da minha faixa etária. Vamos seguindo.
A Prudence dá raiva? Sim. Ela tem raiva da família grande que não “respeita espaço pessoal dela”, raiva de pessoas irresponsáveis — que na cabeça dela é praticamente todo mundo menos ela —, raiva de gente que “faz coisas erradas”, tudo isso seguindo sua lógica pessoal de certo e errado. Obviamente o Quint é o personagem totalmente o oposto, super de boas e agradável com as pessoas, que todo mundo gosta de ter por perto.
Inclusive, o trabalho do Quint é no centro de preservação da mãe dele que resgata animais marinhos que acabam atolando na praia ou ficam presos em redes de pesca. O livro trabalha muito falando sobre preservação ambiental e do trabalho desse tipo de instituição e como muitas vezes as pessoas não dão tanto valor para isso por não saberem ou ignorarem as consequências dessas ações em suas próprias vidas.
A personagem da Prudence vai melhorando conforme ela vai se envolvendo com o trabalho do centro, mas todas as tramas apresentadas no livro são bem infantis e bobas, não espere um super romance ou super desenvolvimento, tudo aqui é fofinho e despretensioso. O Quint te conquista no momento em que ele caga e anda para a Prudence, pudinzinho perfeito esse menino. A melhor amiga da Prudence é maravilhosa, o irmão gêmeo dela é um fofo e os outros personagens são muito gostáveis.
Um ponto positivo para esse livro é que a Prudence é uma menina gorda que tem inseguranças com seu corpo, mas isso não é uma questão que impede a personagem de se gostar. A relação dela com seu corpo é descrita como a insegurança que meninas tem com seu corpo, inclusive parte do perfeccionismo dela vem dessa insegurança “se não sou tão bonita, sou eficiente”, contudo achei que — nesse ponto — a Marissa trabalhou de um jeito bem leve e delicado, porque isso não é apontado por ninguém. Em nenhum momento a Prudence é provocada por seu corpo, pelo contrário o tempo todo é o temperamento dela que as pessoas atacam. O corpo dela é um problema dela e que ela só comenta quando começa a se apaixonar, mas não porque ela se sente inferior, mas porque acha que não é tão bonita assim. Tem umas camadas muito interessantes na personagem da Prudence e acho que a Marisa usou todo o processamento do cérebro dela para criar isso e não sobrou para o resto do plot.
Isso porque existem dois momentos nesse livro que não fazem o menor sentido. A primeira é o poder da Prudence… ele não afetou em nada o desenvolvimento da história, se ela não tivesse esse poder toda a história continuaria exatamente a mesma, a única diferença seria que eu não compraria o livro porque eu dificilmente consumo romance. A segunda coisa é que as crianças resolvem um problema sério “dando um Google”! Sério, uma “googlada” e logo na primeira página eles acham a resposta pra um problema super sério que assim… não existe pessoa ingênua no mundo o suficiente para fazer uma idiotice dessa e só mesmo a preguiça da Marissa Meyer para pensar numa solução dessa.
Eu recomendo o livro para o publico alvo, pré-adolescentes. Ou se você for um adulto que consiga entender que esse livro é bobo e que o romance é infantil. Se você consegue fazer isso acho que vai conseguir aproveitar bem. Eu senti como se estivesse vendo um filme da Disney, mas aqueles bem clichês dos anos 2000.
Outras obras da Marissa Meyer:
Crônicas Lunares — Um começo promissor, mas um fim de tirar a alegria
