Renegados — Decepcionada demais. Adeus, Marissa Meyer

Jey Canavezes
6 min readFeb 24, 2023

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*Esse texto contém spoiler*

De alguma forma a Marissa Meyer se tornou uma autora que eu praticamente tenho todos os trabalhos lançados no Brasil. Quando aconteceu? Não sei, quando eu vi já estava até o pescoço comprometida com seus trabalhos. E por ter lido tudo isso eu comecei a perceber determinados padrões em sua escrita e seu maior defeito enquanto escritora: seu medo de se comprometer.

A série Renegados foi vendida como uma história em que você não saberia diferenciar quem é herói e quem é vilão. Só isso já me fez comprar a série inteira, mas além disso quem havia lido antes de mim comentou que a série corrigia muitos erros cometidos em Crônicas Lunares e que a pluralidade de personagens era um grande avanço em comparação com sua série anterior. Eu tentei muito, porém não tive como evitar as altas expectativas se formando. Comprei todos sem ter lido o primeiro e achei que dessa vez seria diferente, afinal estavam todos falando disso. Ledo engano.

Renegados conta a história de um mundo que em determinado momento algumas pessoas desenvolveram super poderes. Por conta disso os dotados passaram a ser caçados e mortos pelas pessoas comuns, sim, igual em X-man, como descobriu? Bom, nesse momento surgiu um homem chamado Ace Anarquia que começou a levar os prodígios a se rebelarem contra as pessoas que os oprimiam. Ele queria que pessoas com poderes e pessoas comuns tivessem os mesmos direitos, tanto de escolher fazer o bem, quanto em fazer o mal, sem serem perseguidas por terem ou não super poderes.

Contudo Ace não conseguiu controlar as ações de muitas gangues que se formaram e elas tornaram a vida de todos muito difícil e o mundo começou a ruir. Essa parte ficou um pouco vaga, porque o mundo estava em colapso, os trabalhos começaram a sumir, os recursos começaram a ficar escassos e até o governo passou a não existir mais. E isso pra mim foi o mais difícil de acreditar. NÃO EXISTIR MAIS POLITICOS? IMPOSSIVEL! Ainda mais em um mundo onde um discurso mais inflamado faz tudo ir pelos ares.

A maior vitima dessa violência foi a sobrinha de Ace, Nova, que teve toda a sua família assassinada por uma gangue de vilões que queriam que seu pai construísse uma arma nova para eles, porém se recusou. Nessa época um grupo de prodígios estava se destacando por proteger as pessoas dessa violência brutal, eles se denominaram Renegados. Os mesmos Renegados que disseram que iam proteger a família de Nova, mas eles não chegaram lá… Dez anos depois Nova e o que sobrou dos Anarquistas bolam um plano para destruir os Renegados, a pequena Pesadelo vai se infiltrar no quartel general e achar as rachaduras da muralha e destruir esse grupo de falsos heróis de uma vez por todas. Assim nunca mais eles vão trair ninguém. Certo?

Essa história tinha tudo para ser cinco estrelas, favoritada e colocada no topo da minha estante de livros. Contudo, mais uma vez, Marissa Meyer me decepcionou. A falta de comprometimento dela com a história que ela cria me enerva em níveis sobrenaturais. E cortem a desculpa de ser infanto-juvenil, tem muitas histórias dentro do mesmo nicho com muito mais entrega do que a Meyer tem com os livros dela. Ela não vai até o fim com a sua proposta, era para esse livro ser sobre pessoas em uma área cinza onde nós íamos ter duvidas sobre quem era bom e quem era mau, mas os Renegados são constantemente justificados em suas ações — “tudo para um bem maior” — e realmente dá pra ver na prática o quanto eles melhoraram a vida das pessoas. E os Anarquistas, além de gostarem de se colocar como vilões, são pessoas que só queriam vingança para si mesmos. Poucos foram os personagens que não estavam do lado dos Renegados ou dos Anarquistas que foram tratados com mais profundidade, a maioria morreu ou sumiu do nada na história.

O livro começa bem, os personagens vão cativando a gente, a breguice da coisa toda de super-herói, como os nomes, as roupas e até os super poderes, lembra muito o começo das HQs com tudo muito exagerado e beirando o absurdo. Tem momentos em que ela descreve a pose dos personagens e eu só consigo pensar naquela série do Batman & Robin. Até ouso dizer que o primeiro e o segundo livro são muito competentes no estabelecimento do mundo e no desenvolvimento dos personagens, a gente vê que eles querem muito ser fieis aos seus lados e seus objetivos iniciais, seus ideais. Só que isso morre principalmente na Nova, que tinha tudo para ser essa personagem ambígua e que ia mostrar pra gente o lado feio dos Renegados e o quanto os Anarquistas estavam lutando por algo maior do que eles mesmos.

Mas além da covardia dela em se comprometer com a trama que ela mesma escolheu, ela fugiu completamente do personagem no final da história. O Ace era para ser um personagem que acreditava no direito das pessoas de escolherem o caminho certo para si mesmas, com a derrota, a prisão e tudo que ele passou seria aceitável que ele se transformasse em alguém que perdeu o controle e só queria vingança, mas ela transformou ele no responsável pela morte dos pais da NovaPOR QUÊ??? Ele não precisava ser isso. Ace matou o próprio irmão por não querer mais ajudar ele, por não querer fazer o que ele queria, se ele ficasse puto e nunca mais voltasse lá, se ignorasse o irmão e a família por ideologia eu entenderia, mas eu tive que guardar todos os panos da minha casa porque foi o Ace que mandou matar o irmão e a família. Ou seja, nunca foi por ideologia, o Ace só queria poder e controle desde o começo. COMO UM VILÃO QUALQUER! A Nova só não morreu porque ela tinha poderes e de certa forma usou para se defender, mas o Ace nem sabia disso, inclusive só ficou com ela porque ela tinha poderes, se não tivesse capaz dele mesmo tê-la matado. Gente, no final… no final o cara chamado CAPITÃO CROMO era realmente o herói do livro! Meu Deus, que ódio!

Mas ainda fica pior, porque estragar o personagem do Ace não foi o suficiente, ela finalizou a história com o Max DANDO poderes para TODO MUNDO! Fim! Agora todo mundo é ou pode ser herói, não tem mais perseguição de prodígios, porque a única pessoa que não tem poderes é o Max e ele não está nem aí para isso. Olha, sinceramente, eu só não taco fogo nessa série porque eu gastei muito dinheiro nela — série da Rocco né, mores.

Epilogo

Sobre o plot twist final do livro em que a Pega conta sua história e descobrimos que ela é a Evie, irmã da Nova que não morreu… eu me tremi inteira quando li, inclusive ela sim, tem esse lado ambíguo que poderia ser muito bem explorado, nas últimas 10 páginas do livro a Pega mostrou mais profundidade do que qualquer outro personagem em 500 paginas de livro. Fiquei tão emocionada que até aumentei a nota final do livro porque nossa, perfeito. Mas não apaga o puro suco de decepção amargo que eu tive que engolir durante esse livro todo.

Não sei se lerei mais livros da Marissa Meyer depois dessa decepção e também não sei se indico os livros dela de alguma forma. Acho que vale mais a pena ler outras autoras do mesmo nicho.

Outras obras da Marissa Meyer:

Crônicas Lunares — Um começo promissor, mas um fim de tirar a alegria

Sem Coração — A verdadeira história da Rainha de Copas.

Instant Karma — O romance água com açúcar de Marissa Meyer

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Jey Canavezes

90% das resenhas são feitas no hype pós-leitura. Os outros 10% eu não tenho ideia do que eu tô falando.